quinta-feira, 18 de junho de 2009

A luz pela janela

No último domingo, escrevi para o blog .2009. um artigo que tem algumas referências a partes de nossa aula de ontem. Reproduzo abaixo só um trecho. Quem quiser conferir ele inteiro, clique aqui.

O manuseio – por assim dizer – da informação, seu tratamento desde a extração de uma galáxia de dados até o escrutínio dos valores e signos adequados e a sua utilização prática final, transformou-se num dos maiores desafios para o homem do século 21. Desafio que serve de argumento importante para aqueles que defendem a junção cooperativa entre o material biológico e a matéria tecnológica, cujo resultado seria um ser híbrido, nem homem, nem máquina, nem cérebro, nem chip: um outro ser, num outro estágio, imputando à natureza da vida a potência do processamento acelerado da informação.
Para o neurocientista Miguel Nicolelis, a forma como o cérebro humano constrói a realidade está mudando radicalmente a partir do uso de novas tecnologias populares, como a internet e o telefone celular. As crianças estabelecem com o real outro nível de interação, muito mais ágil do que seus pais ou avós. Além disso, a chamada “realidade virtual” a cada dia reduz a necessidade da presença física para a condução de atos e experimentos. Mesmo distantes, dispositivos mecânicos e eletrônicos são considerados pelo cérebro como extensões do corpo, da mesma maneira que para um tenista a raquete é uma extensão do braço. “Como se houvesse uma incorporação”, admite ele.
Pode-se dizer que este processo teve início com a ferramenta límbica que reproduz o mundo, instalando, na frente dos olhos, a janela por onde passa um turbilhão de luz – para usar a imagem sugerida num verso de Shakespeare: “Que luz é aquela, que passa pela janela?”
A referência ao texto de Romeu e Julieta vem da obra do canadense Marshall Mcluhan, Os meios de comunicação como extensões do homem, obra clássica para o estudo de qualquer mídia. Antecipando as conclusões da neurociência, Mcluhan repisa coisas óbvias, como a criação de ambientes humanos diferentes com o advento de novas tecnologias. Mas é preciso começar pelo óbvio para elaborar, em seguida, afirmações polêmicas: “Estamos nos aproximando rapidamente da fase final das extensões do homem: a simulação tecnológica da consciência”.
Enquanto se fala, nas ciências humanas, de uma “simulação” – termo preferido por muitos filósofos – a neurociência em 2009 parte de resultados empíricos para projetar uma “incorporação”, menos semelhante a uma cópia do que a uma fusão, prevista quando se obtiver o reconhecimento total entre os dados bioquímicos do cérebro e os processadores de um chip implantado, ou de um computador remoto a milhares de quilômetros de distância.

Um comentário:

  1. Legal, Fábio. Segue o link para um artigo de Edgar Franco (aquele artista/professor de quem falei ontem na aula) sobre as possibilidades do pós-humano na ciberarte:
    http://www.antropologia.com.br/colu/colab/c33-efranco.pdf

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