quarta-feira, 17 de junho de 2009

A arte na feira


Na nossa primeira aula, o Renascimento foi citado por Nina em dois pontos principais: por ser o período histórico em que o símbolo (convenção) se torna mimese (representação); e em que os discursos da arte e da ciência se encontram (vale dizer que a Filosofia Natural antiga trazia essa mesma característica, pondo no mesmo barco a ciência, a filosofia e a magia).

No livro O Bazar do Renascimento – Da rota da seda a Michelangelo (Grua, 2009), o professor inglês Jerry Brotton se propõe a fazer um estudo do surgimento da civilização européia moderna entre os anos 1400 e 1600, a partir “da troca de idéias e mercadorias com seus vizinhos orientais, em sua maioria islâmicos”. Para o autor, “a Europa emergiu no contato íntimo, e não numa oposição total, com as culturas e comunidades que posteriormente passou a demonizar e rotular como subdesenvolvidas e incivilizadas”. A influência do conhecimento árabe teria sido fundamental para nomes como Da Vinci, Copérnico, Vesalius e Montaigne, apenas para citar algumas das maiores expressões renascentistas.

Compartilho outras passagens do livro:

“No bazar renascentista, diferentes culturas se confrontaram com perplexidade e desconfiança, por um lado, também com prazer e fascinação, por outro. Elas trocaram objetos e ideias que contrariavam proscrições religiosas e políticas que reforçavam a separação cultural e o antagonismo mútuo”.

“Renascimento é um conceito de elite, baseado nos ideais culturais de um estrato muito reduzido da sociedade”.

“Muitas das grandes conquistas culturais e tecnológicas do Renascimento provocaram instabilidade, incerteza e ansiedade, e o ethos do período pode ser definido como uma luta contra esse dilema.”

“O Renascimento foi considerado a origem de toda vida civilizada, portanto um modo de validar como vivemos nossas vidas é encontrar evidência disso naquele período. Contudo, isso nos torna cegos para o que realmente motivou a criação da arte e da cultura renascentista.”


A respeito do quadro reproduzido acima, Os embaixadores, de Hans Holbein, datado de 1533 e tido como ícone do Renascimento, Brotton afirma: “A Europa posicionou-se a si mesma no centro do globo terrestre, porém seu olhar estava voltado para as riquezas do Oriente, dos tecidos e sedas do Império Otomano às especiarias e pimentas do arquipélago indonésio. Muitos dos objetos do quadro de Holbein têm uma origem oriental, da seda e veludo vestidos por seus personagens aos tecidos e estampas que decoram o aposento. A pintura é uma imagem triunfante do poder da Europa setentrional, contudo é também uma magnífica exibição do desejo e da aquisição do luxo oriental que chegou á Europa através da Rota da Seda e dos bazares da Ásia central e do extremo oriente.”

Em outro trecho, sobre o artista: “Nascido na Alemanha, Holbein primeiro trabalhou em Basileia (Suiça) e depois na Inglaterra como um pintor de corte, e foi fortemente influenciado pela arte italiana. Os objetos em suas telas indicam que ele absorveu influências culturais, políticas e intelectuais notavelmente globais. Isso tornou sua pintura essencialmente híbrida e bastante diferente da de seus contemporâneos italianos, mas não fez dele um pintor menos atribuível ao Renascimento. Mais que tudo, é exatamente sua mobilidade cultural que define seus aspectos ‘renascentistas’.”

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